Cansada mas Intrépida falando com a Torre, Angustiada com o Silêncio do Cavaleiro

Eu estava aqui, onde quase sempre estou, delirante e mimosa a depositar os meus pensamentos.
E tu vieste sentar-te na sala, com os olhos rasos de água, numa calma e numa fragilidade que eu já não vejo há algum tempo.

Ficaste em silêncio, enquanto eu me dividi na roupa que passei a ferro e fui arrumar.
Eu apreciei a minha obra de arte de peixe no forno...os meus medalhões de pescada alourados e estaladiços com arroz de feijão a gosto, a sopa feita á medida dos paladares das leoas e rejubilei com tanta comida feita, comida que eu evito e consumo desnorteada a horas incertas...e agora, doente e obrigada e levada a pensar que não estou bem , venci essa aversão, do tempo que tenho de perder para comer, e achei que tinha feito um grande feito!

Voltei para recolher mais roupa e 1000 brinquedos que iluminam o chão, esta chão de desencontro e de tristeza, de desconhecimento total...e tu contorcias-te numa chamada de atenção, mas sempre com os olhos cheios de orgulho e de revolta, de quem olha para a DONA DA RESPONSABILIDADE de tudo e todos.

Como se tudo dependesse de mim....
E tu vieste quebrado, chorar, vieste de mansinho aninhar-te mais perto, porque é esta a estrutura sem a qual não queres viver, e mantendo-a queres continuar Rei a fazer todas as outras coisas.
Queres continuar a ser todas essas coisas que te distanciam de mim, mas eu continuo suposta aqui, a fazer tudo isto, a cuidar de nós, mesmo que o meu coração habite noutro lado...

Pouco te importa o que eu possa fazer ainda que o meu Amor te ofenda
E ofende-te porque és Homem e porque tens preconceitos
Quanto mais não seja ofende-te porque o que me move para outra pessoa não são todas as matérias que ela me possa dar, mas a mente dela em que quero existir e beber dela a toda a hora.
O teu dinheiro não pode comprar o meu estado de amor por alguém, e mais grave que isso, o estado de amor em que estou por mim própria.
E preciso mesmo...

Não vês o que todo este desamor me está a fazer?
Não vês o cansada que estou de cuidar tudo e todos, de levar a cabo as lutas de toda a gente, saindo do meu centro necessário para estar bem?

Não posso mais colocar-Vos, Pessoas da minha Vida, antes de mim...
É bonito, é altruista, mas é errado, e é tão esgotante que nem consigo abstrair-me para viver comigo própria, o que me incapacita de estar Só, e é fundamental que eu saiba estar...

Entre a tua procura velhaca e a ausência total de noticias, o meu coração quer apenas deixar este peso para trás.
Quando eu acredito que Vais estar em paz tu rebentas de Guerra e de Ofensas
Quando penso que o Mimo vai chegar de uma forma ou de outra, essa atenção está canalizada para outras prioridades, noutro segmento, e faz todo o sentido, porque é uma prioridade para essa Pessoa.

Estou sózinha, estranhamente sózinha há uns dias
A perceber que nem sequer me interessa exigir o que quer que seja
Mas também não te quero de gatas como desfecho a dizer que eu DONA DO UNIVERSO tenho o poder de modificar tudo, porque não tenho, não tenho mesmo...

As Leoas, tenho de amá-las, protegê-las, mas todas as coisas relativas às suas Vidas, serão da minha competência....?

Enquanto dobro as tuas meias, infimas, todas azuis, diferentes formatos, percebo que é um acto em piloto automático, mas até isso, tu sabes que é da minha responsabilidade, inteira, assinada e comprada e por isso, achas que te preocupa saber, se elas amanhã não vão estar na gaveta?
Não!...
Porque estás habituado a que elas estejam sempre lá, como qualquer acto que acontece todos os dias. O sol surge, as pessoas arrancam na rua em burburinho, os bébés choram na fila das vacinas, e as senhoras velhotas falam que no tempo delas nada disto era assim....

Vejo as mochilas, os recados nos cadernos, troco os equipamentos e começo a fazer um boneco de neve para a escola da Nô.
Tinhamos dias em que eu enchia a mesa de materiais para explorarmos, e eu pedia-te que viesses fazer porcarias connosco, mas tu não tinhas pachorra alguma, e eu achava que era natural assim, não haver o minimo esforço naquilo que não se gosta tanto, só porque o nosso outro gosta...mas ah como é importante caro Amigo!

Tão importante, que nunca registaste os meus trabalhos de simbolos em barro quando andei metida nos conhecimentos holisticos, Reikis, energias, meditação da Fraternidade Branca com a D.Emilia e na Psicoterapia para a regressão...

E agora eu olho para ti perplexa, porque afinal estou a ir sózinha para o meu designio e tu preferes ficar a pensar na casa que ainda ias comprar e que era térrea em São Torpes como eu queria!... Já estava apalavrada para uma compra bacana a 10 anos....
E foi neste preciso momento que apeteceu chorar outra vez por nós...porque os nossos desejos são como duas linguas, dificieis e completamente incompativeis...

Eu continuei no ritmo de uma casa na qual já não quero estar, mas na qual faço o melhor que sei, quando mais não seja porque gosto de roupa perfumada passada a ferro nos sitios, coisas arrumadas sem a obsessão dos museus ou das revistas, livros em barda organizados na estante para alimentar a alma, as coisas das Leoas orientadas, a cozinha sem estar em estado de sitio, as poupanças em tudo a que me proponho, os livros do Estudo da Leoa I e o sabor da preparação para o teste.....
E olhei para ti ainda mais cansada e receosa de que esta tua obsessão me leve para longe de mim, aquele furacão que chega a qualquer parte e tem o poder de sonhar, e do seu sonho ser realidade na maior parte das vezes....

Pois olha, no olhar que te dedico do meu sobrolho desconfiado, e do Cavaleiro que me enche o peito, mas cujo silêncio e desprendimento me magoa com a surpresa terrível do que são os factos por vezes, tenho a dizer-Vos o seguinte:

Um porque tem de se perceber essencial e feliz
O outro porque tem de fazer escolhas a determinada altura
Um porque tem de encontrar o fundamental de existir
O outro porque substima as coisas mimosas com a lógica
Um porque sente de mais, e acusa a toda a responsabilidade que é não é sua
Outro porque sente de menos, e defende que o Homem é o seu próprio motor, tão autónomo e tão independente que até irrita

Fiquem ambos com o Vosso Karma Caneco!
Pois é um cansaço querer levar em mim as Vossas responsabilidades e o Vosso livre arbitrio!

É perder a iniciativa de escrever coisas lindas para quem não tem tempo para as ler!
É perder o centro de tudo de bom que quis dar...
É não ter luz suficiente para Vos ler e saber na perfeição....

E perceber o meu fundamentalismo de encargos!

Arrasto-me para a cama porque me é essencial dormir.

E percebo que não tenho mundo para onde submergir inspirada e acarinhada porque cada um com as Vossas Vidas, estão os dois muito ocupados...

Pois bem, se não há espaço para me respeitares como tua Amiga e Mãe das tuas filhas
Se não há mimo e entrega emergente para um Cavaleiro que me deixa suspensa no silêncio...

Tenho de ir viver a minha Vida, e deixar de me esbanjar tanto

Por tão pouco!...