quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Chorar para me Libertar

A determinada altura, isto tinha de acontecer!...

Eu tinha de cair de dentro da minha imensa armadura, aquela que é muito forte e sorridente, aquela que mete toda a gente a rir, aquela que os meninos e meninas dizem ser inspiradora e um exemplo, e revelar a minha condição de humana, que não é maior nem melhor que os outros, apenas humana e com direito a bater no fundo de mim mesma, com o propósito de uma renovação total.

Quando começo a juntar as peças de todo este puzzle, este que se ergue no meu suposto espaço e se apresenta como o caos total de emoções, que é um monte de cobranças frustradas, em que fiquei muito aquém dos verdadeiros objectivos, e em que percebo que por muito que fizesse e me esforçasse, levo todas as Vidas e todas as causas às costas, e o símbolo da concretização frequente, percebo-me minuscula perante todas as Vitórias que eu acho que passam obrigatóriamente por mim e não passam de facto.

Querer chegar a tudo, a todos, a toda a hora levar em mãos as minusculas pedras de construção de um caminho, tornou-se cansativo e penoso, e chegou mesmo a hora de parar...parar para descansar e para deitar fora esta culpa que sinto, relativo a tudo e todos.

Diz a entendida Doutora, que conhece as minhas escamas de pequeninas e tenras, que isto é a tipica depressão, que já me assolou a alma e o corpo quando achei que a minha Mãe não vencia a guerra pessoal, espiritual e fisica dela, e que tenho de parar, e esquecer-me de tudo o resto e interiorizar que sou só a Pessoa mais importante no processo e que tenho de transformar todos estes problemas em pequenos teasers de crescimento.
Isto, porque ela diz que a minha maneira de ver a Vida e de falar, o que escrevo e sinto, são verdadeiros antídotos para Vazios, e que Pessoas como eu não podem ficar no chão, pelo trabalho conveniente de quem todos os dias nos deprime mais um pouco.

Acha que apostei demasiado numa ideia de amor que não era senão posse e importância ludica.
Acha que transportei para a Pessoa menos adequada a ideia de familia e filhos que persigo.
E acha que o meu amor, acerca do qual falo com orgulho, que o descobri real, tal e qual como o procuro, mas dentro de alguém que não sabemos como poderá validar essa escolha tão feliz e profunda que fiz.

Em suma, também acha que tenho tendência a querer mudar o Mundo, as Pessoas e que me interesso por causas dificeis em que nem sempre é fácil remediar o que está mal. E parece que eu já nasci assim, a querer mudar quem não quer ser mudado e a amar Pessoas onde o meu amor é regularmente esbanjado.

Não concordei...disse-lhe que o meu amor por ti, é compensada com a tua forma de amor na íntegra, ainda que a mesma não seja o protocolo habitual, até porque na tua Vida, tudo está definido, o trabalho, a casa, a Mulher, os Amigos, os Hobbys, os objectivos, e eu sou um bonus que mexe com a tua imaginação, que fez a tua Mente apaixonar-se, e que de forma subtil, vagarosa começas a recordar de forma recorrente, na tua Pele, no teu corpo, e isso provoca a insurgência do amor, mas tu ainda não sabes, e só vais saber, quando tiveres tempo e te predispuseres a sentir isso....

Porque neste momento eu já não tenho medo de te amar em quantidades industriais, porque acorda e adormece comigo esse facto, mas tu continuas a temer, todos os meteoritos criados e possantes que este amor possa despoletar na tua Vida, sempre em tudo controlada.


E como ela diz e eu aceito, mesmo que simultaneamente saiba que tenha milhões de coisas para fazer; diz que tenho de fazer as coisas uma por uma, que tenho de perder o medo de falhar, e que há duas formas básicas de me libertar...pela diversão e compensação de um amor próprio que está muito "socado" de agressões verbais, e às tantas já se põe em causa, ou anular-me em comprimidos e terapias da treta e levar mais 5 ou 6 anos a perceber que a depressão é um mar de pensamentos maioritariamente maus, e que em nada me acrescentam, parado, estagnado, e no qual estou sempre sujeita a afogar-me.

Ainda não me esqueci como se nada, mas confesso sem vergonha nenhuma que estou a ficar muito cansada, e eu divirto essa exaustão ao máximo. Mas ela está a gostar de andar comigo e eu tenho de me libertar desse veneno mesmo que seja a chorar...

E eu páro agora de procurar aceitação e confirmação do que quer que seja, não é por antecipar o que quer que seja que vou estar melhor ou mais segura.
Não foi por fazer tudo o que estaria certo que preveni a rotura reles e descabida de uma parte da minha Vida, e não foi por ser tão querida e meiga que evitei de magoar as Pessoas, sobretudo as Leoas; porque infelizmente o meu processo de libertação passa por mostrar-lhes o lado menos risonho da relação com outro adulto, não menos querido e amado porque que é pai.....

Mas nessa lição, até me sinto capaz, e de dever cumprido....o que acontece é que a determinada altura, e como todos os dias recolho a este espaço, a esta casa, com estas coisas todas cá dentro, percebo no fundo que não tenho espaço feliz e sereno para existir, e isso deixa-me sem eira nem beira, apesar de nada faltar no fundo...a comida lá está, as camas onde têm de estar, as decorações, os livros, até a cor enjoativa dos cortinados.

E recomeço a chorar....porque me cansa o medo de me ter deixado vencer por todas estas coisas adquiridas, porque o medo me travou quando devia ter agido de forma mais prática e protegida, porque o Medo me impede de ser confiante onde tenho de progredir e avançar.

E estou desesperada de sentir as limitações, de perceber que este medo que ninguém vislumbra em mim ás vezes me vence em grande, e que é um gigante absurdo nos meus sonhos lindos...e que eu acordo com ele a dizer que vai, mas que já volta...

Estas lutas pelas posses, ou pela sobrevivência, pelos orgulhos, ou pelos direitos, pelas escolhas e pelo que elas implicam invadiu aquele bocado de mim que me torna única e invencivel, e está a destruir a minha confiança, e está a deixar o Medo tornar-se um ingrediente habitual.

Eu própria neste casamento que era de ouro e de cetim, agi várias vezes pelo medo, retardei decisões, abdiquei de reagir em prol de mim, e saí do caminho original das minhas crenças, e comecei a não fazer isto e aquilo, e bloqueei-me em forma de sorriso.

E agora, na resolução derradeira, parece que nada flui e tudo se desenvolve devagar demais, e tudo o que preciso está desprovido de sentido.
E a única forma legitima que encontro de me recompor é assumir que apesar de Dragão, sou Mulher, pessoa que tem chorar este medo até ao fim....até perceber que de alguma forma vai começar a passar.

E que depois de todo este desconcerto, existe uma Vida para ser vivida, e que os meus sonhos estão lá ainda á minha espera, prontos para se materializarem, e que sim! que vale a pena Viver, mesmo para além das quedas e dos arranhões, para além das mágoas que acabam por passar e para além dos desfechos que não dependem só de mim.

Chorar para me ensinar que não devo sofrer por antecipação e sofrer por escolhas que não são minhas, pelas que me competem e que foram tomadas em busca dessa paz e perfeição humana, quante baste, que me enche de ilusão e estímulo.

E a redenção não existe em ti apesar de seres tudo o que és.
Mas existe em mim, na capacidade se ser eu mesma, um rio em curso veloz, que deseja abraçar o teu. A seu tempo, num tempo, sem descaracterização e impaciência como este, onde certamente a minha Luz atrairá o que lhe é devido, e que só forças exteriores à minha poderão dizer, se a determinada altura, o meu coração e os seus segredos, são de facto, uma alegria imensa, confirmada.

Mas vou aproveitar para chorar tudo, e chorar como se não houvesse amanhã, não é vergonha nenhuma...
Apenas libertação!

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