domingo, 13 de março de 2011

Andanças


Não me lembro de em tão pouco tempo ter encaixotado e desencaixotado tanta coisa...
Tenho as mãos ásperas do pó, metade da minha Vida da porta para fora, metade da minha infância da porta para dentro.
Entre as coisas do Pai que fui buscar para minha casa e os meus Primos direitos, 15 anos sem vê-los, tem sido muita informação para o Disco rigido...
Coisas do meu Pai, que abraço, que cheiro, que limpo e dobro com amor...
21 Corujas de Estimação, todas diferentes e um sem fim de coisas que já se perderam a caminho do caixote do lixo....
Coisas que me vão dar jeito, mas mais que isso, lembram-me os tempos do Principe Real e das nossas madrugadas de torradas e conversas depois de noites loucas e agitadas.
Lembro-me a tua capacidade de me fazeres rir, ou ir até às lágrimas.
Do teu cheiro depois do banho, da tua doçura e charme quando estavas pronto para sair...
Lembro-me de te esperar ou não te esperar de todo, e de me teres dados a possibilidade de brincar aos adultos sozinhos em casa com apenas 14 anos.
Essa responsabilização que me deste e que outros ( como é normal) consideram desresponsabilidade total, deu-me tino nos cornos não obstante de tudo o de mal e de muito mau que poderia ter feito...poderia ter sido muito pior....
Fizeste falta em muitos momentos
E em muitos momentos foste um Pai ausente
Mas quando foste Pai, foste de uma maneira...que até hoje está marcado e volta agora com mais força, com todas estas coisas a entrarem-me pela porta adentro.
Digo-te até...estas chávenas e talheres, estas panelas e formas, e as tuas 21 Corujas...são um amor com pó, um sentimento de segurança e recomeço imenso e a certeza de que nada...mas mesmo nada!!acontece por acaso....
Metade das tuas coisas, desapareceram...tenho 20 pires, e nem um chávena...posso sempre brincar ao tiro ao prato, e quando me dão aquelas fúrias de querer fazer explodir o Mundo e posso sempre atirá-los à parede....
As tuas roupas, todas vou dá.las.
Não posso usá-las ainda que me tenha habituado desde cedo a usar as tuas camisas e gostar das tuas gravatas, mas não...não posso ir trabalhar vestida assim...
Por isso, depois de abraçá-las muito vou dá-las a quem precisa.
Os teus papeis ainda nem mexi
Mas são muitos e tenho a certeza de que ainda me vou encher de nostalgia ao escolher pedaços daqui e de além e decerto vou ficar a saber pormenores que desconheço, mas para tudo, existe um momento sagrado, e até para isto, eu me sinto, preparada.
Despachar as tuas coisas, quase com um funeral da tua "vida" aqui, com todas as amarguras que isso te trouxe e nas quais viveste aprisionado anos.
Africa é a Tua Terra, isto aqui não podia dar certo....
Eu vou incendiar estes teus pedaços, e esperar que eles se encontrem dentro de ti em paz.
Eu fiquei muito em paz...isto trouxe-me uma paz obtusa num momento em que devolvo copos e panos do meu amor morto, seco e incompreensivel e recebo os teus em minha casa, para me lembrar, hoje, como em todos os dias, que eu tenho um Pai, ele está "aqui" bem vivo, estranhamente presente.
Ao carregar dos sacos lembrei-me da cena do Elevador e da Avó a olhar para nós...e nós a ir às lágrimas de tanto rir...e isso é impagável e valeram de todo as andanças!!!

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